Polêmicos no Brasil, o novo marco regulatório da exploração do petróleo e a elevação da participação do Estado no capital da Petrobrás parecem ser temas menos controversos no exterior. Um termômetro dessa serenidade são as análises feitas pelo turco Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), instituição ligada à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), e agrupa 28 países - o Brasil não está incluído. "Tenho total confiança na política energética brasileira, baseado no que vimos nas últimas décadas", diz ele.
Birol é reconhecido como uma das maiores autoridades mundiais em análises e projeções energéticas. Também é expert em políticas energéticas públicas, em especial as relacionadas ao petróleo. Parte desse conhecimento foi adquirido durante a sua passagem de seis anos pela Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep), o cartel formado pelos produtores do Oriente Médio, da África, da América do Sul e da Ásia, que controla, na prática, a variação do preço internacional do óleo no mercado mundial.
Para Birol, o novo marco regulatório brasileiro não assusta, nem mesmo a crescente participação do Estado na Petrobrás. "Os anos gloriosos das companhias internacionais estão lentamente caminhando para o fim", afirma, referindo-se a multinacionais como Shell, Texaco e Exxon, que, em um passado não tão distante, controlavam a exploração de petróleo mundial.
Depois de mais de um mês de negociações, Birol aceitou interromper sua extensa agenda e falar ao Estado durante 26 minutos - tempo que cronometrou - sobre pré-sal, marco regulatório e, sobretudo, sobre sua especialidade, o mercado mundial de petróleo. É dele a análise, publicada pela AIE em dezembro, de que as reservas globais estão se esgotando em ritmo mais acelerado que o imaginado.
A seguir, a entrevista concedida na terça-feira, em Paris.
Em 2007, o relatório Perspectivas Energéticas Mundiais da Agência Internacional de Energia prenunciava uma curva de declínio da produção dos campos de petróleo existentes da ordem de 3,7% ao ano. Um ano depois, a Agência informou que a velocidade de declínio era maior, chegando a 6,7% ao ano. Como o sr. explica essa mudança de análises?
Fatih Birol-Nós alteramos nossas metodologias. O que estamos afirmando desde sempre é que muitos dos campos maduros já estão em declínio. Isso não significa que hoje já tenhamos alcançado o pico da extração de óleo. O que afirmamos é que, em 2010, estaremos chegando ao pico da produção nos países não membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Além disso, acreditamos que o petróleo convencional - não o petróleo total, mas o extraído com técnicas convencionais - atingirá seu auge em torno de 2020, se não identificarmos novos campos.
Essa perspectiva agrava o impasse entre o crescimento da demanda e o da produção no futuro próximo, não?
Fatih Birol-Sim. Mesmo que a demanda global de óleo permaneça estável entre hoje e 2030, mesmo que não haja aumento mundial, nós teremos de trazer ao mercado 45 milhões de barris de petróleo só para compensar o declínio nos campos existentes. Se a demanda crescer - e eu creio que ela crescerá após a crise financeira -, então teremos de aumentar a produção em mais 45 milhões de barris por dia, além do aumento da demanda. Por exemplo, se considerarmos que o mercado global em 2030 crescerá 30 milhões de barris por dia, então teremos de aumentar a produção em 45 milhões por dia apenas para compensar o declínio e mais 30 milhões de barris por dia para fazer frente à demanda. Temos dois desafios: localizar novos campos para compensar o declínio nos campos maduros e, além disso, aumentar a produção para acompanharmos o crescimento do consumo. Um dos pontos-chave é desenvolver os campos que já foram identificados. Mas, de qualquer forma, precisaremos de novas jazidas.
Suas previsões não são uma boa notícia para um mundo muito dependente de petróleo. Qual é a solução?
Fatih Birol Há várias opções, no médio prazo e no médio/longo prazo. Até 2020, a solução é investir em desenvolvimento dos campos que já foram identificados para torná-los produtivos, ou mais produtivos. Além disso, é preciso investir em novos campos de petróleo. Em mais longo prazo, nós teremos de usar o petróleo de uma maneira muito mais inteligente do que usamos hoje. Isso é eficiência energética. Muito do consumo de óleo vem do setor de transportes, da aviação, da navegação, entre outros. Precisaremos aumentar a eficiência desses modos de transporte. Em paralelo, é inevitável que busquemos novas fontes de combustíveis que possam substituir, ao menos parcialmente, o petróleo, como os biocombustíveis que o Brasil produz. Em terceiro lugar, temos de tentar usar a eletricidade como energia para automóveis e veículos em geral. Logo, no curto e médio prazos, precisamos aumentar a capacidade de produção dos campos existentes, investir em novas descobertas e, em paralelo, temos de tentar encontrar meios de usar o óleo de forma mais racional, substituindo por outros combustíveis, como o etanol, além de passar a usar a eletricidade na alimentação de veículos. Essas seriam as soluções que vislumbramos hoje.
Mas serão necessários investimentos maciços para localizar e explorar novas jazidas. E as companhias petrolíferas têm cortado seus investimentos, em resposta à crise financeira e à queda do preço do barril. O sr. acredita em um colapso do investimento em petróleo?
Fatih Birol- Esse é um risco importante. O que temos feito na AIE é observar, companhia por companhia, em que ritmo os investimentos estão sendo feitos em 2009. Como disse, vamos precisar das companhias para aumentar os investimentos e superar os desafios. O que vemos, entretanto, é que a crise levou ao declínio dos investimentos em 31%. É um declínio enorme, da ordem de centenas de bilhões de dólares por ano. É o exato oposto do que deve ser feito: precisamos ampliar os investimentos e estamos observando seu declínio em 2009. São más notícias, em especial porque a reaceleração da economia vem sendo puxada pelos maiores consumidores, como a China, por exemplo. Esse forte crescimento da demanda, combinado com o declínio dos investimentos, pode, nos próximos anos, sufocar mercados menores, o que significará também preços maiores do que verificamos hoje. E preços maiores poderão significar más notícias para a economia global, para a recuperação e para os esforços que temos feitos para eliminar as fragilidades atuais pelas quais passamos.
Autoridades como o diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, alertam também que o preço do barril de petróleo pode causar distúrbios sociais e políticos, além de econômicos. O sr. considera muito pessimista essa avaliação?
Fatih Birol-Os países produtores de petróleo, sejam do Oriente Médio, sejam da América Latina, sejam da África, elevam os preços de forma artificial para obter lucros e vantagens econômicas. No entanto, se os preços se tornam elevados demais, teoricamente vão gerar desorganização na economia dos países importadores de petróleo, como os europeus, a China, a Índia e outros. E essa é uma notícia ruim para os produtores, porque eles precisam de compradores com boa saúde econômica. Se as economias compradoras, como as da OCDE - lideradas pelos Estados Unidos, pela Europa, pelo Japão, assim como emergentes como China e Índia -, enfrentarem adversidades financeiras, as más notícias vão afetar também os países produtores. Para evitar essa espiral, há duas coisas a serem feitas: primeiro, reorganizar as estratégias de investimentos em países produtores e, segundo, evitar preços muito elevados para o barril.
As novas jazidas na camada pré-sal do litoral brasileiro se inscrevem entre as capazes de elevar a produção e as reservas internacionais, certo?
Fatih Birol-Está claro que o Brasil pode aumentar sua contribuição para a produção global elevando os investimentos na prospecção de petróleo no pré-sal. Entretanto, ainda precisamos ter uma dimensão mais exata das novas descobertas e, mais importante, temos de ver se investimentos suficientes se dirigirão ao Brasil. Pensar que as novas descobertas no pré-sal poderiam mudar o cenário global imediata e substancialmente não é correto.
O Brasil julga necessário tirar maior proveito dessa produção e para tanto elabora um novo marco regulatório para o setor. O sr. tem acompanhado esse debate? É uma decisão inteligente?
Fatih Birol-No longo prazo, acreditamos que a curva de produção no Brasil pode dobrar facilmente. Isso exigirá um marco regulatório correto para atrair investimentos e acordos com os parceiros certos, na hora certa. É uma decisão importante, que precisa ser tomada pelas autoridades brasileiras, em cooperação com a indústria brasileira do petróleo. As reservas do Brasil são enormes em números e podem chegar a um terço das explorações offshore mundiais, o que será muito significativo. Não são campos de fácil acesso, mas, com um preço de petróleo correto e condições de investimento propícias, o Brasil poderá dobrar sua produção atual nos próximos 20 anos. Isso elevaria a competitividade do País na cena internacional de produtores de petróleo e aceleraria a espiral de crescimento da economia brasileira.
Analistas temem que as companhias internacionais ponham seus planos para o Brasil em espera até que as novas regras do marco regulatório para o pré-sal sejam esclarecidas. O sr. acredita que essas novas regras podem afetar de forma direta os investimentos?
Fatih Birol-Eu não quero comentar as decisões específicas do governo. O que posso dizer é que é preciso haver uma regulação que estimule o investimento para que o dinheiro necessário à exploração se dirija ao Brasil. Isso pode, claro, ser feito considerando variáveis como os interesses nacionais brasileiros e quanto óleo se quer produzir. Caberá ao Brasil decidir quanto desse petróleo será revertido para os mercados e quanto não será. O tempo e o volume que será revertido ao mercado é chave para o interesse de qualquer nação. E isso precisa ser decidido com base nas prioridades econômicas do País e de suas necessidades de desenvolvimento. Tenho total confiança na política energética brasileira, baseado no que vimos nas últimas décadas. O Brasil é o único país significante no mundo, até onde conheço, que de importador de petróleo se tornou um exportador líquido. É sinal de que o Brasil adotou as políticas energéticas corretas. E, neste momento, as decisões serão relevantes, em termos de políticas de investimento, não apenas para o Brasil. Haverá implicações em escala global.
O marco regulatório prevê também a recapitalização da Petrobrás, uma forma de permitir ao Estado um aumento rápido de sua participação no capital da companhia. O sr. vê características nacionalistas nessas medidas?
Fatih Birol- Sim, claro. Mas, ao longo dos últimos 20 anos, mais de 80% do crescimento da produção mundial no mercado de petróleo vem de companhias nacionais de petróleo, não de companhias internacionais. Os anos gloriosos das companhias internacionais estão lentamente caminhando para o fim. Daqui para a frente, as companhias nacionais dominarão os negócios de petróleo e suas posições no mercado ganharão em importância.Estadão
Birol é reconhecido como uma das maiores autoridades mundiais em análises e projeções energéticas. Também é expert em políticas energéticas públicas, em especial as relacionadas ao petróleo. Parte desse conhecimento foi adquirido durante a sua passagem de seis anos pela Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep), o cartel formado pelos produtores do Oriente Médio, da África, da América do Sul e da Ásia, que controla, na prática, a variação do preço internacional do óleo no mercado mundial.
Para Birol, o novo marco regulatório brasileiro não assusta, nem mesmo a crescente participação do Estado na Petrobrás. "Os anos gloriosos das companhias internacionais estão lentamente caminhando para o fim", afirma, referindo-se a multinacionais como Shell, Texaco e Exxon, que, em um passado não tão distante, controlavam a exploração de petróleo mundial.
Depois de mais de um mês de negociações, Birol aceitou interromper sua extensa agenda e falar ao Estado durante 26 minutos - tempo que cronometrou - sobre pré-sal, marco regulatório e, sobretudo, sobre sua especialidade, o mercado mundial de petróleo. É dele a análise, publicada pela AIE em dezembro, de que as reservas globais estão se esgotando em ritmo mais acelerado que o imaginado.
A seguir, a entrevista concedida na terça-feira, em Paris.
Em 2007, o relatório Perspectivas Energéticas Mundiais da Agência Internacional de Energia prenunciava uma curva de declínio da produção dos campos de petróleo existentes da ordem de 3,7% ao ano. Um ano depois, a Agência informou que a velocidade de declínio era maior, chegando a 6,7% ao ano. Como o sr. explica essa mudança de análises?
Fatih Birol-Nós alteramos nossas metodologias. O que estamos afirmando desde sempre é que muitos dos campos maduros já estão em declínio. Isso não significa que hoje já tenhamos alcançado o pico da extração de óleo. O que afirmamos é que, em 2010, estaremos chegando ao pico da produção nos países não membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Além disso, acreditamos que o petróleo convencional - não o petróleo total, mas o extraído com técnicas convencionais - atingirá seu auge em torno de 2020, se não identificarmos novos campos.
Essa perspectiva agrava o impasse entre o crescimento da demanda e o da produção no futuro próximo, não?
Fatih Birol-Sim. Mesmo que a demanda global de óleo permaneça estável entre hoje e 2030, mesmo que não haja aumento mundial, nós teremos de trazer ao mercado 45 milhões de barris de petróleo só para compensar o declínio nos campos existentes. Se a demanda crescer - e eu creio que ela crescerá após a crise financeira -, então teremos de aumentar a produção em mais 45 milhões de barris por dia, além do aumento da demanda. Por exemplo, se considerarmos que o mercado global em 2030 crescerá 30 milhões de barris por dia, então teremos de aumentar a produção em 45 milhões por dia apenas para compensar o declínio e mais 30 milhões de barris por dia para fazer frente à demanda. Temos dois desafios: localizar novos campos para compensar o declínio nos campos maduros e, além disso, aumentar a produção para acompanharmos o crescimento do consumo. Um dos pontos-chave é desenvolver os campos que já foram identificados. Mas, de qualquer forma, precisaremos de novas jazidas.
Suas previsões não são uma boa notícia para um mundo muito dependente de petróleo. Qual é a solução?
Fatih Birol Há várias opções, no médio prazo e no médio/longo prazo. Até 2020, a solução é investir em desenvolvimento dos campos que já foram identificados para torná-los produtivos, ou mais produtivos. Além disso, é preciso investir em novos campos de petróleo. Em mais longo prazo, nós teremos de usar o petróleo de uma maneira muito mais inteligente do que usamos hoje. Isso é eficiência energética. Muito do consumo de óleo vem do setor de transportes, da aviação, da navegação, entre outros. Precisaremos aumentar a eficiência desses modos de transporte. Em paralelo, é inevitável que busquemos novas fontes de combustíveis que possam substituir, ao menos parcialmente, o petróleo, como os biocombustíveis que o Brasil produz. Em terceiro lugar, temos de tentar usar a eletricidade como energia para automóveis e veículos em geral. Logo, no curto e médio prazos, precisamos aumentar a capacidade de produção dos campos existentes, investir em novas descobertas e, em paralelo, temos de tentar encontrar meios de usar o óleo de forma mais racional, substituindo por outros combustíveis, como o etanol, além de passar a usar a eletricidade na alimentação de veículos. Essas seriam as soluções que vislumbramos hoje.
Mas serão necessários investimentos maciços para localizar e explorar novas jazidas. E as companhias petrolíferas têm cortado seus investimentos, em resposta à crise financeira e à queda do preço do barril. O sr. acredita em um colapso do investimento em petróleo?
Fatih Birol- Esse é um risco importante. O que temos feito na AIE é observar, companhia por companhia, em que ritmo os investimentos estão sendo feitos em 2009. Como disse, vamos precisar das companhias para aumentar os investimentos e superar os desafios. O que vemos, entretanto, é que a crise levou ao declínio dos investimentos em 31%. É um declínio enorme, da ordem de centenas de bilhões de dólares por ano. É o exato oposto do que deve ser feito: precisamos ampliar os investimentos e estamos observando seu declínio em 2009. São más notícias, em especial porque a reaceleração da economia vem sendo puxada pelos maiores consumidores, como a China, por exemplo. Esse forte crescimento da demanda, combinado com o declínio dos investimentos, pode, nos próximos anos, sufocar mercados menores, o que significará também preços maiores do que verificamos hoje. E preços maiores poderão significar más notícias para a economia global, para a recuperação e para os esforços que temos feitos para eliminar as fragilidades atuais pelas quais passamos.
Autoridades como o diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, alertam também que o preço do barril de petróleo pode causar distúrbios sociais e políticos, além de econômicos. O sr. considera muito pessimista essa avaliação?
Fatih Birol-Os países produtores de petróleo, sejam do Oriente Médio, sejam da América Latina, sejam da África, elevam os preços de forma artificial para obter lucros e vantagens econômicas. No entanto, se os preços se tornam elevados demais, teoricamente vão gerar desorganização na economia dos países importadores de petróleo, como os europeus, a China, a Índia e outros. E essa é uma notícia ruim para os produtores, porque eles precisam de compradores com boa saúde econômica. Se as economias compradoras, como as da OCDE - lideradas pelos Estados Unidos, pela Europa, pelo Japão, assim como emergentes como China e Índia -, enfrentarem adversidades financeiras, as más notícias vão afetar também os países produtores. Para evitar essa espiral, há duas coisas a serem feitas: primeiro, reorganizar as estratégias de investimentos em países produtores e, segundo, evitar preços muito elevados para o barril.
As novas jazidas na camada pré-sal do litoral brasileiro se inscrevem entre as capazes de elevar a produção e as reservas internacionais, certo?
Fatih Birol-Está claro que o Brasil pode aumentar sua contribuição para a produção global elevando os investimentos na prospecção de petróleo no pré-sal. Entretanto, ainda precisamos ter uma dimensão mais exata das novas descobertas e, mais importante, temos de ver se investimentos suficientes se dirigirão ao Brasil. Pensar que as novas descobertas no pré-sal poderiam mudar o cenário global imediata e substancialmente não é correto.
O Brasil julga necessário tirar maior proveito dessa produção e para tanto elabora um novo marco regulatório para o setor. O sr. tem acompanhado esse debate? É uma decisão inteligente?
Fatih Birol-No longo prazo, acreditamos que a curva de produção no Brasil pode dobrar facilmente. Isso exigirá um marco regulatório correto para atrair investimentos e acordos com os parceiros certos, na hora certa. É uma decisão importante, que precisa ser tomada pelas autoridades brasileiras, em cooperação com a indústria brasileira do petróleo. As reservas do Brasil são enormes em números e podem chegar a um terço das explorações offshore mundiais, o que será muito significativo. Não são campos de fácil acesso, mas, com um preço de petróleo correto e condições de investimento propícias, o Brasil poderá dobrar sua produção atual nos próximos 20 anos. Isso elevaria a competitividade do País na cena internacional de produtores de petróleo e aceleraria a espiral de crescimento da economia brasileira.
Analistas temem que as companhias internacionais ponham seus planos para o Brasil em espera até que as novas regras do marco regulatório para o pré-sal sejam esclarecidas. O sr. acredita que essas novas regras podem afetar de forma direta os investimentos?
Fatih Birol-Eu não quero comentar as decisões específicas do governo. O que posso dizer é que é preciso haver uma regulação que estimule o investimento para que o dinheiro necessário à exploração se dirija ao Brasil. Isso pode, claro, ser feito considerando variáveis como os interesses nacionais brasileiros e quanto óleo se quer produzir. Caberá ao Brasil decidir quanto desse petróleo será revertido para os mercados e quanto não será. O tempo e o volume que será revertido ao mercado é chave para o interesse de qualquer nação. E isso precisa ser decidido com base nas prioridades econômicas do País e de suas necessidades de desenvolvimento. Tenho total confiança na política energética brasileira, baseado no que vimos nas últimas décadas. O Brasil é o único país significante no mundo, até onde conheço, que de importador de petróleo se tornou um exportador líquido. É sinal de que o Brasil adotou as políticas energéticas corretas. E, neste momento, as decisões serão relevantes, em termos de políticas de investimento, não apenas para o Brasil. Haverá implicações em escala global.
O marco regulatório prevê também a recapitalização da Petrobrás, uma forma de permitir ao Estado um aumento rápido de sua participação no capital da companhia. O sr. vê características nacionalistas nessas medidas?
Fatih Birol- Sim, claro. Mas, ao longo dos últimos 20 anos, mais de 80% do crescimento da produção mundial no mercado de petróleo vem de companhias nacionais de petróleo, não de companhias internacionais. Os anos gloriosos das companhias internacionais estão lentamente caminhando para o fim. Daqui para a frente, as companhias nacionais dominarão os negócios de petróleo e suas posições no mercado ganharão em importância.Estadão
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