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17 de novembro de 2009

Lula rejeita adiar acordo climático e critica os EUA

O Brasil rejeita o adiamento de um acordo internacional sobre combate às mudanças climáticas na cúpula de Copenhague, no mês que vem, como decidiram os EUA, a China e alguns países asiáticos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou ontem que vai manter a pressão sobre aos EUA.

O presidente passou a concentrar as cobranças sobre os EUA, "o maior poluidor do planeta", e confirmou que definitivamente irá à cúpula na capital dinamarquesa. Acredita que "somente com a presença de dirigentes políticos é que se pode mudar alguma coisa em Copenhague e o que parecia impossível pode se concretizar".

"Não temos como aceitar a ideia dos EUA e da China de não participarem desse processo", acrescentou. "É preciso que eles se sentem na mesa conosco para discutirmos e encontrarmos os números [de redução das emissões para reduzir o aquecimento do planeta]."

Para combater a "relutância" dos que não querem descarbonizar suas economias, Lula pretende pegar o telefone desde hoje para falar com os presidentes americano, Barack Obama, chinês, Hu Jintao, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, políticos pelos quais passam necessariamente decisões que envolvam o modelo de desenvolvimento dos países.

A União Europeia (UE), que recebeu como um choque a posição americana e de países da Ásia, está "mais ou menos" de acordo com o Brasil para apresentar um documento com "consistência política" para cortar emissões, segundo Lula.

Numa entrevista na área interna do Palazzo Chigi, sede do governo italiano, o presidente brasileiro ficou avermelhado e elevou o tom quando indagado se fora pego de surpresa com o fato consumado de os EUA, a China e outros países terem anunciado em Cingapura que não daria para fechar o acordo em Copenhague e que deveriam empurrar um pacote final para o ano que vem no México.

"Todos terão que apresentar números, o presidente Obama, o presidente Hu Jintao e todos os outros", respondeu. "Por que você pensa que o Brasil tomou a iniciativa de apresentar números [de corte de emissões]? É para a gente poder cobrar daqueles que passam o tempo inteiro querendo dar lições ao Brasil. O Brasil fez a sua parte e eles têm de fazer a deles."

Insistiu que o Brasil assumiu "compromissos excepcionais", que passam pela mudança da matriz do carvão para a siderurgia brasileira, mudanças na área agrícola, combate ao desmatamento e manutenção da matriz energética limpa, esperando "demover" os que relutam.

Mas ele baixou o tom sobre a China. "Obama tem que assumir mais responsabilidades, a China tem responsabilidades, mas menos que os EUA", disse. A questão, para Lula, é que a China em todo caso já assumiu compromissos com países emergentes, com os Bric (Brasil, Rússia e Índia) para a negociação climática. E falar com o presidente Hu Jintao é mais fácil porque "ele estará muito mais de acordo conosco".

"Restam os EUA, a maior economia do mundo, maior emissor de gases de efeito estufa no mundo, portanto têm maior responsabilidade", acrescentou. "Os números que o presidente Obama apresentou são pequenos diante da quantidade de emissões que os EUA têm emitido nos últimos 200 anos. Apesar de todas as dificuldades que Obama tem, os números (de corte de emissões) que enviou ao Congresso representam apenas a metade do que o Brasil assumiu para cortar o desmatamento da Amazônia. Se o Brasil pode, os EUA podem fazer muito mais."

O que não dá para aceitar, conforme advertiu o presidente brasileiro, é que os EUA e a China tentem se entender numa espécie de G-2 e um jogar a culpa no outro para não fazer nada na área climática, ou seja, para evitar o custo do reaparelhamento do parque industrial e mudança na matriz energética para descarbonizar suas economias.

Apesar de todo o discurso, Lula acaba por admitir o cenário mais realista, na opinião de boa parte dos analistas, diante do fosso entre países ricos e emergentes. Ou seja, se os dirigentes não conseguirem estabelecer metas de redução das emissões em Copenhague para assumir um acordo, "poderão ao menos assinar um documento político que os comprometa com um calendário que vai resolver as metas depois".

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