A ministra da Casa Civil e pré-candidata à Presidência, Dilma Rousseff, acirrou ontem a polêmica com tucanos a respeito do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Em discurso para cerca de 400 prefeitos e vice-prefeitos do PT, ela disse que as críticas ao governo partem de uma oposição que padece de "excesso de vaidade" e "falta completa de rumo". Para Dilma, os tucanos "dilapidaram o patrimônio público" na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e agora são "incapazes de formular um projeto para o País".
Em evento na noite anterior, a ministra já usara os adjetivos "patéticos" e "atrasados" para definir os oposicionistas. Na mesma ocasião, o presidente também atacou seus adversários, dizendo que estão usando táticas de Adolf Hitler.
As manifestações do presidente e da ministra foram uma espécie de resposta ao artigo do ex-presidente Fernando Henrique, publicado uma semana atrás pelo Estado, no qual ele afirmou que o atual governo caminha para o "autoritarismo popular", um tipo de "subperonismo". Segundo Dilma, esses argumentos não encontram fundamento na realidade. As alianças políticas construídas pelo PT nos últimos anos seriam uma prova de seu espírito democrático. "Nós somos de fato os grandes democratas desse País", afirmou. "Nós ouvimos todos os setores da população."
O pronunciamento de Dilma ocorreu durante o encontro nacional de prefeitos e vice-prefeitos do PT, em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Foi um evento político preparatório para a campanha presidencial de 2010. Em clima de festa, a ministra almoçou com prefeitas e vice-prefeitas petistas e posou para fotos.
Nos discursos, tanto a ministra quanto os outros oradores insistiram na tese de que o PT deve ir para a rua com uma campanha de caráter plebiscitário, na qual o eleitor seria levado a optar entre o governo de Fernando Henrique e o de Lula. "O que vai estar em jogo é o confronto entre dois programas, entre dois Brasis", afirmou a pré-candidata petista.
A tese de plebiscito, que a cada dia ganha força no interior do PT, é rejeitada pelo PSDB.
FIM DO "DOGMA"
Além de responder ao artigo do ex-presidente, a ministra criticou a mídia e atacou, indiretamente, Caetano Veloso. Em entrevista à jornalista Sonia Racy, do Estado, o cantor e compositor chamou o presidente Lula de "analfabeto e grosseiro" e disse que seu voto nas próximas eleições vai para a ex-senadora Marina Silva (PV).
Segundo Dilma, a oposição partidária no Brasil está se transformando numa oposição midiática, "com a crescente partidarização da mídia". Aos poucos, porém, disse a ministra, está desmoronando o "dogma" de que "o povo é politicamente atrasado e precisa de formadores de opinião".
Na sexta-feira à noite, durante encontro comemorativo do PC do B, em São Paulo, Dilma havia conclamado os aliados para a "tarefa histórica" de dar continuidade à administração petista: "Agora que as transformações pelas quais sempre lutamos começam a se aprofundar, não iremos deixar que elas escapem das nossas mãos, das mãos calejadas do povo brasileiro."
No mesmo encontro, Lula comparou os tucanos a Hitler, por causa de um programa de treinamento de cabos eleitorais no Nordeste do Brasil que o PSDB planeja. "É um pouco o que o Hitler fazia, para que os alemães pegassem os judeus. Ou seja, vamos treinar gente para não permitir que eles sobrevivam." A fala irritou os tucanos.
Na ocasião, Lula também reagiu à entrevista de Caetano. "Tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro que isso", afirmou Lula.
Em Guarulhos, ao discursar ontem para os prefeitos, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, também atacou o artigo de FHC. Disse que no governo Lula, ao contrário do que diz o ex-presidente, não existe "autoritarismo popular", mas sim "autoridade do povo".
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