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18 de dezembro de 2009

Com polarização, pesquisas vão selar futuro de Serra

Duas frases e um encontro cancelado, nas últimas duas semanas, foram as senhas que amadureceram a decisão do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), de divulgar ontem a carta de renúncia à disputa da pré-candidatura ao Planalto contra José Serra. A desistência foi vista pelos aliados dos tucanos como "investimento futuro" de Aécio: o governador de Minas empurrou Serra para a condição de candidato de facto do PSDB contra a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Agora, as pesquisas não terão mais de um nome tucano na lista e dirão quem, entre Serra e Dilma, está subindo ou descendo nas intenções de voto.

Para interlocutores, Aécio admitiu que no atual cenário não teria chances de ser escolhido como candidato do PSDB. Saindo da disputa, automaticamente cria a polarização entre Serra e Dilma. Se a ministra crescer, o paulista poderá acabar preferindo a confortável candidatura à reeleição em São Paulo. Assim, estaria criada a oportunidade para que Aécio fosse chamado de volta para a corrida sucessória.

Na pior das hipóteses, Aécio ganhou tempo para coordenar a campanha em Minas e forçou Serra a assumir a montagem das alianças nacionais em torno de sua candidatura presidencial. "Aécio jogou com as brancas. Fez o movimento de ataque. Agora, começou o jogo", diz um de seus principais aliados.

O mineiro começou a perder a disputa quando sentiu a indisposição do PSDB para realização de prévias. Em setembro, como noticiou o Estado, as prévias foram enterradas quando ele aceitou fechar com o governador de São Paulo um pacto, traduzido numa frase curta: "Nada de disputa entre nós."

De lá para cá, Aécio trabalhou para obrigar Serra a antecipar o lançamento da candidatura. Diante da resistência do paulista e de boa parte do PSDB - que avalia que não deve, para não se desgastar, responder às provocações de Lula e Dilma e ao confronto plebiscitário desejado pelo PT -, Aécio apressou o desfecho da carta-renúncia.

A primeira frase-símbolo da pressão de Aécio por uma definição foi proferida no último dia 7, quatro dias antes de um seminário do PSDB, agendado para Teresina (PI). Politicamente cansado, após participar de cinco seminários (João Pessoa, Foz do Iguaçu, Aracaju, Natal e Goiânia), Aécio anunciou que pretendia aproveitar o encontro de Teresina para ter "uma conversa decisiva" com Serra.


Dois dias depois, Serra deu troco em Brasília, ao final de solenidade do Ministério da Defesa, no quartel dos Fuzileiros Navais: "Eu e o Aécio temos timings diferentes." O governador reforçou a decisão de não negociar a antecipação da candidatura, mesmo estando cada vez mais claro que, sem prévias, ele era o "escolhido".

O sinal amarelo acendeu no comando do partido, levando o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), a ligar para os dois. A conclusão era de que a frase de Aécio levaria a imprensa toda para a capital do Piauí. "Quando acabar a conversa decisiva, um batalhão de jornalistas estará plantado à porta da sala onde vocês fizeram a reunião", brincou Guerra. Serra, Aécio e o senador decidiram cancelar o seminário do dia 11. Uma semana depois - ontem - Aécio soltou a carta-renúncia.

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