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28 de janeiro de 2008

O chuchu


O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) é rápido e intransigente quando o assunto é eleição. A estratégia de Alckmin para ganhar uma candidatura é anunciar a intenção antes dos concorrentes dentro de seu partido e sustentar a posição até o fim, sem ceder. Ele fez isso pela primeira vez em 1994. Era presidente regional do PSDB de São Paulo e conseguiu a vaga de vice do então candidato ao governo paulista Mário Covas. Com a morte de Covas, em 2001, assumiu o governo de São Paulo e virou um político de influência nacional. Em 2006, quando era governador, Alckmin surpreendeu ao anunciar, antes dos aliados José Serra e Aécio Neves, que deixaria o cargo para ser o candidato do PSDB à Presidência da República. Aécio desistiu. Apesar das pressões em favor de Serra, Alckmin bateu o pé e foi o escolhido. Agora, dois anos depois, ele repete a tática. A nove meses da eleição municipal, Alckmin mais uma vez saiu na frente e avisou que quer ser candidato à Prefeitura de São Paulo. Nada mais distante do apelido de “picolé de chuchu”, que sugere alguém insípido, sem determinação.

O concorrente de Alckmin desta vez não é diretamente tucano. É o atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), que conta com o apoio de Serra, seu antecessor no cargo. Kassab foi eleito em 2004 como vice. Herdou a Prefeitura em 2006, depois que Serra renunciou para se eleger governador de São Paulo. Kassab já anunciou a intenção de disputar a reeleição, como se espera de ocupantes do cargo. Kassab também é um aliado e tanto do PSDB: segue o programa de governo de Serra à risca e a maioria de seus secretários são tucanos aliados ao governador. Mesmo assim, Alckmin insiste em sua candidatura. “O PSDB, como sempre, em todas as eleições, deve ter candidato próprio na cidade de São Paulo”, afirma.

A pretensão de Alckmin põe em risco a aliança nacional entre o PSDB e o DEM (o ex-PFL), mantida desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso para a Presidência da República, em 1994. O clima da disputa ficou pesado nas últimas duas semanas, especialmente depois que FHC declarou ao jornal O Estado de S. Paulo que o PSDB deveria apoiar Kassab e que Alckmin deveria aguardar 2010 para ser candidato ao governo de São Paulo. Tal estratégia facilitaria o projeto de levar Serra ao Palácio do Planalto na próxima eleição presidencial, com a repetição da aliança entre PSDB e DEM. Na semana passada, a cúpula do DEM esteve em São Paulo para dar apoio a Kassab. Em resposta, partidários de Alckmin bateram boca com os aliados de Serra e com lideranças do DEM pelos jornais. Para demonstrar força, organizaram um encontro em que Alckmin recebeu o apoio de 23 candidatos à Prefeitura de cidades da região metropolitana de São Paulo.

‘‘O PSDB, como sempre, em todas as eleições, deve ter candidato próprio na cidade de São Paulo’’
GERALDO ALCKMIN, ex-governador

Na quarta-feira 23, houve um princípio de tentativa de trégua organizada pelos dois lados. Alckmin e Kassab se encontraram em um almoço promovido por José Henrique Reis Lobo, presidente do diretório municipal do PSDB. Apenas os três se sentaram à mesa para conversar. Kassab disse a Alckmin que quer ser candidato à reeleição, mas está preparado para também não ser. “A prioridade é a manutenção da aliança (entre PSDB e DEM)”, afirmou. Na avaliação de aliados de Kassab, a iniciativa teria desarmado Alckmin. Em retribuição, Alckmin disse que também queria a candidatura, pois o PSDB, por seu tamanho, não poderia ficar sem candidato na maior cidade do país. Mas admitiu que, em primeiro lugar, vem a união entre os dois partidos. Ficou combinado que os dois voltarão a conversar no futuro. Após o encontro, os partidários de Alckmin decidiram adiar eventos de apoio ao ex-governador, que estavam marcados para esta semana. “O diálogo foi importante. Não é hora de queimarmos pontes”, afirma o deputado Édson Aparecido (PSDB-SP), aliado de Alckmin.

A disputa entre os tucanos é resultado de uma divisão dentro do partido em São Paulo entre “serristas” e “alckmistas” desde 2006, quando Alckmin impôs sua candidatura à Presidência. Apesar de estarem no mesmo partido, um lado considera o outro tão – ou mais adversário – que o PT. Os “serristas” têm cargos na administração Kassab e defendem o apoio à candidatura dele. Argumentam que Alckmin seria candidato quase imbatível ao governo paulista em 2010, quando Serra pretende ser candidato à Presidência.

Os “alckmistas” defendem a candidatura à Prefeitura porque acusam Serra de isolar o ex-governador e de não conceder espaço – cargos – a eles em sua administração. “Se Geraldo esperar até 2010, será esmagado”, diz um alckmista. O principal argumento dos aliados de Alckmin para sua candidatura à Prefeitura é que ele seria o candidato mais forte na disputa contra a ministra do Turismo, Marta Suplicy, possível candidata do PT. Na pesquisa mais recente, feita em dezembro pelo Ibope, Marta aparece à frente com 27% das intenções de voto, contra 24% de Alckmin. Kassab vem em terceiro, com 12%.

Na pesquisa mais recente, a petista Marta Suplicy aparece na frente, seguida de Alckmin e de Kassab

Os partidários de Alckmin e os de Kassab concordam em um ponto. O lançamento de dois candidatos de um mesmo campo político tende a enfraquecer ambos e a facilitar a vida de Marta, se ela for mesmo candidata. Em um encontro na terça-feira 22, Alckmin disse ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, sem ele na disputa, fica mais fácil uma vitória da petista. Isso, segundo Alckmin, daria ao PT um candidato forte à Presidência em 2010.

Embora esteja fazendo tudo para ajudar Kassab, Serra, em público, tenta manter as aparências. Fora de São Paulo, muitos tucanos apóiam a iniciativa de Alckmin de enfrentar Serra. O principal deles é o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Como Serra, Aécio também tem pretensões presidenciais. Caso o PSDB paulista apóie Kassab e ele seja reeleito, Serra pode sair fortalecido na disputa interna contra Aécio pela candidatura tucana à sucessão de Lula.

Alckmin está fora do jogo pela candidatura presidencial, mas ainda é uma peça importante no partido. Depois da derrota para o presidente Lula em 2006, ele passou uma temporada de estudos na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Desde que voltou, começou a dar aulas numa universidade e a fazer palestras. Também tem se aventurado na acupuntura. Nos últimos meses, somou a sua rotina visitas a bairros de São Paulo, numa discreta pré-campanha à Prefeitura. Aos domingos, costuma assistir a missas em igrejas da periferia de São Paulo. Sua iniciativa de se lançar candidato à Prefeitura com tanto ímpeto é um passo para recomeçar a carreira e reorganizar seu grupo político. A prova de que o chuchu é mesmo duro de roer.

1 Comentários:

Anônimo disse...

Eu adora esta jovem,e para mim é uma implicância gratuita,da imprensalona,porque ela é filha de um ministro do Presidente Lula!

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