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17 de fevereiro de 2009

CGD volta ao País e quer ficar entre os maiores


Fora do mercado há quatro anos, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) reinicia suas atividades no Brasil. Com capital inicial de € 40 milhões, que será reforçado à medida da sua penetração no mercado, e US$ 500 milhões disponíveis para linhas de trade finance (financiamento ao comércio exterior), o maior banco de Portugal recomeça com um "plano ambicioso" de figurar entre os 50 maiores do País até o final de 2011. As projeções, se conquistadas, terão garantido nesse período o retorno do investimento, estima o presidente da CGD, Fernando Faria de Oliveira. O executivo está no Brasil desde domingo e veio acompanhar a solenidade de abertura da subsidiária, na capital paulista, que aconteceu ontem.

O retorno ao País é parte da estratégia do banco, controlado integralmente pelo Estado, de intensificar seu processo de internacionalização, particularmente, buscando participações em mercados de potencial crescimento, diz. O Banco Caixa Geral - Brasil, denominação das operações no País, nasce focado nas área corporate e de investimento. "A CGD é líder em diversos segmentos do varejo em Portugal e em alguns países. O varejo não é a opção agora, mas poderá vir a ser no futuro." Nesse sentido, o mercado brasileiro de financiamento à habitação poderá ser uma aposta da instituição, forte em Portugal nesta área, responsável por quase 50% da sua carteira de crédito, de € 75 bilhões em 2007 (os números de 2008 ainda não estão disponíveis). Faria de Oliveira explica que o plano é atrair grandes empresas da Península Ibérica - particularmente as portuguesas - e do Brasil e apoiar seus negócios entre países, bem como nos demais mercados onde o banco está presente - tem operações em 23 países. Além das linhas de comércio exterior e repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o portfólio inclui linhas de capital de giro, financiamento de projetos, assessoria em fusões e aquisições, operações de dívidas estruturadas. "A instituição é muito forte em concessão de garantias em Portugal e uma das maiores da Europa nessa área." A subsidiária terá ainda uma divisão de private equity, particularmente, de venture capital, que deverá viabilizar a participação em companhias com grande potencial de desenvolvimento.

O banco começa com uma equipe "altamente especializada", diz, de 15 pessoas. Alguns profissionais foram importados de Portugal; outros atraídos do mercado local, como a presidente-executiva do grupo no País, Deborah Vieitas, ex-diretora da filial brasileira do francês BNP Paribas. Neste primeiro momento, operará a partir de São Paulo, mas cogita instalar escritórios no Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre e Brasília. "São alternativas pensadas. Entretanto, é prematuro dizer quando vamos ampliar. Nessa primeira etapa, a marca será qualidade", diz Faria de Oliveira, descartando também eventuais aquisições nesse momento, em que o setor está em ritmo de consolidação.

Na opinião do executivo, o Brasil tem condições mais favoráveis para superar a atual crise mundial, diferentemente de países europeus, Estados Unidos, Japão e Rússia, grandes potências mundiais que entraram em recessão praticamente ao mesmo tempo. "O Brasil tem mantido nível de desenvolvimento elevado nos últimos anos e aqui se fala em crescimento econômico menor, mas em crescimento." A queda no consumo mundial, acredita, afetará pouco o País pelo tipo de suas exportações, baseadas em minérios, alimentos e alguns bens industriais, mercados que serão menos comprometidos pela crise, avalia.

Na relação dos itens atrativos, o executivo cita a estabilidade política, o fato de o Brasil ter entrado "na moda", atraindo cada vez mais volumes recordes de investimento estrangeiro, e os pesados investimentos em curso de grandes empresas em diversas áreas, além de uma indústria de pequenas e médias companhias cada vez mais preparadas e competitivas. "Com tudo isso, o País pode segurar uma crise por 2, 3 anos sem grandes sobressaltos."

São essas oportunidades, não disponíveis hoje nos mercados maduros, que têm de ser aproveitadas pela CGD, observa. Portugal, por exemplo, cuja economia está estagnada, vinha apresentando ritmo de crescimento muito lento, em torno de 1% ao ano nos últimos dez. Por isso, o banco intensifica seu processo de internacionalização, principalmente, iniciando operações ou reforçando-as em mercados com grande comunidade portuguesa e potencial de crescimento, como alguns africanos, caso de Angola, que cresce acima de 20%, e Moçambique, com aumento de dois dígitos. África do Sul e Venezuela também estão no foco, bem como explorar no futuro mercados no Norte da África. A idéia, ressalta, é a subsidiária também "ser parceira" de empresas brasileiras e companhias portuguesas e espanholas que operam no País e buscam oportunidades de negócios nos países onde o banco atua.

A CGD tem tradição centenária no Brasil. Iniciou atividades locais em 1919, quando adquiriu a Agência Financial de Portugal, no País desde 1887. O banco teve uma fatia de 16% do Itaú, vendida em 2003, e comprou 80% do Banco Bandeirantes em 1998, controle trocado em 2000 por uma participação de 12% no Unibanco, vendida em 2005, quando começou a delinear sua estratégia de atuar sozinho no País.

Com ativos de € 109,9 bilhões, patrimônio líquido de € 5,17 bilhões e depósitos de € 60 bilhões, seus ganhos somaram € 864 milhões em 2007, sendo que a área internacional responde por 12% dos resultados. A base é de mais de 4,5 milhões de clientes e a rede tem de 1.198 agências. A crise pouco afetou o banco, que deverá no máximo, reduzir sua rentabilidade em decorrência da desvalorização de suas carteiras de títulos, afirma. Hoje, a CGD está com a missão de apoiar a liquidez do sistema financeiro português, diz o executivo, e foi encarregada pelo governo de gerir o Banco Português de Negócios (BPN), estatizado por causa das perdas com a crise. Conforme Faria de Oliveira, a CGD está fazendo um levantamento do BPN e pode sugerir soluções, como uma possível reprivatização.

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