O primeiro trimestre deste ano será, de fato, o fiel da balança para o emprego em 2009. A constatação é do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, destacando que os dados do último trimestre do ano passado estavam "contaminados" por efeitos que não estavam diretamente ligados à crise (como o nível alto de estoques), e por isso, "o que ocorreu no mercado de trabalho no último trimestre do ano passado não pode ser referência para o ano de 2009", afirma. Com base nos dados do primeiro trimestre deste ano o governo tomará "medidas importantes" na questão do emprego, envolvendo algumas áreas relegadas ao segundo plano até agora, como os trabalhadores temporários e terceirizados, e o mercado informal.
Um dos principais interlocutores econômicos do governo, e também do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Pochmann prefere não especificar quais serão as medidas, mas aponta que estas envolvem "questões mais profundas de modernização da temática do emprego, algo que não seja pela lógica neoliberal". Dentre alguns dos pontos que devem estar na pauta há a questão da terceirização, "que ainda está aberta no Brasil", e também alterações no universo dos trabalhadores informais. "Pelo ritmo de crescimento do emprego e da formalização verificados nos últimos anos, estas questões ficaram de lado, foram contidas", argumenta Pochmann, lembrando que o mercado formal responde por apenas um terço do mercado total de trabalho.
O presidente do Ipea acrescenta que deverão ser desenvolvidas ações não só para incorporar mais pessoas ao mercado de trabalho, mas também para retirar pessoas do mercado de trabalho, "pessoas que não deveriam mais estar lá, seja porque são crianças ou muito jovens, seja porque são de mais idade, ou porque há um abuso em uma jornada de trabalho extraordinária, estas são algumas das possibilidades que podem ser tratadas".
As mais de cem mil demissões em janeiro, informadas recentemente na divulgação dos dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), fazem parte deste ciclo de ajustes que a economia brasileira ainda enfrenta, destaca Pochmann, que contrapõe as demissões a dados positivos como a recuperação de empregos no setor automobilístico. Ele avalia que parte das dispensas do último trimestre foi ocasionada por uma leitura equivocada das empresas, "tanto que algumas já começaram a recontratar". Pochmann argumenta que, diante de uma inflexão, como a provocada pela crise, as empresas, quando optam por cortar, "cortam mais do que a necessidade, porque não tem uma previsão se aquela inflexão vai se prolongar ou não".
Esta análise é corroborada por Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Ganz considera que houve um movimento precipitado de ajuste das empresas automobilísticas, "que poderia ter sido postergado, considerando a alta rentabilidade que elas tiveram nesses últimos anos, combinados com o desconhecimento dos efeitos da crise no Brasil". Entretanto, a retomada deste setor não é estendida aos demais setores da economia, "que estão vivendo agora parte do que o setor automobilístico viveu no último trimestre do ano passado", argumenta Ganz.
O economista do Dieese destaca que há ainda o risco de uma "segunda onda" de demissões neste primeiro trimestre, "essa sim extremamente perversa, como estamos vendo em outros países". No entanto, o País tem chance real de escapar desta segunda onda, mas isso exige iniciativas fortes e coordenadas dos governos federal e estaduais, pois na medida em que os efeitos da crise ficam maiores, exigem maior intervenção do poder público, diz Ganz. "O Brasil mostrou que tem um mercado interno bastante vigoroso, que é capaz de segurar um nível de atividade econômica para não termos desemprego", afirma.
Na estimativa do Dieese, para que não haja desemprego é necessário uma taxa de crescimento de 3% da economia, o que equivale a criação de aproximadamente 2,5 milhões a 3 milhões de postos de trabalho, incluindo nestes números os trabalhadores formais, informais e autônomos. Mas Ganz avisa que "não é fácil, não é tranquilo, e não é seguro que cresceremos nesta taxa".
O gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria, Flávio Castelo Branco, prevê uma recuperação mais forte do emprego seguindo uma aceleração da atividade produtiva entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano, "quando o impacto das políticas públicas, especialmente a queda de juros, devem fazer mais efeito." O economista ressalta que o problema do desemprego pode ser menor do que o esperado no Brasil, "porque os setores intensivos em mão de obra não vão ter um ajuste muito grande, o ajuste produtivo será maior nos setores intensivos no capital, e por isso o impacto no emprego tende a ser menor."
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