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2 de setembro de 2010

Polícia Federal prende vereadores, prefeito e vice de uma das maiores cidades do Mato Grosso do Sul. A suspeita é de fraudes em licitações.


Uma ação da Polícia Federal (PF) realizada ontem deixou Dourados (MS) sem comando. Durante a Operação Uragano — uma alusão, em italiano, a furacões —, a PF prendeu o prefeito, o seu vice, o presidente da Câmara Municipal e oito dos 12 vereadores da cidade. O grupo é acusado de fraudes em licitações públicas e pagamento de propina, corrupção ativa e formação de quadrilha. O esquema envolvia ainda nove servidores públicos — sendo cinco secretários municipais — e outras sete pessoas, incluindo a primeira-dama, que foi detida em Brasília enquanto participava de um evento promovido pelo governo federal. Ela é acusada de ter recebido dinheiro para fazer uma cirurgia plástica.

A PF não precisou de muito tempo para fazer a investigação, iniciada em maio. O esquema foi descoberto pelo secretário de Comunicação da prefeitura de Dourados, Eleandro Passaia, que gravou várias vezes o prefeito Ari Artuzi (PDT) fazendo pagamentos aos vereadores. O dinheiro que bancava o mensalinho de Dourados vinha, segundo a polícia, das empresas que forneciam produtos e serviços para a prefeitura. As licitações realizadas pelo município eram direcionadas a firmas que repassavam a Artuzi quantias que variavam de 10% a 50% dos valores dos contratos. Isso rendia ao prefeito em torno de R$ 500 mil mensais.

Passaia repassou as gravações para a Polícia Federal, mas garantiu que não participava do esquema. Para ajudar os investigadores, o secretário chegou a receber R$ 15 mil do prefeito, que, assim como seus familiares, secretários, empresários, empreiteiros e vereadores, estava sendo monitorado pela PF. A apuração detectou que não apenas os políticos do partido ou da base aliada de Artuzi, mas também os da oposição, recebiam a mensalidade. O dinheiro da propina seria destinado à campanha. Um dos presos, o presidente da Câmara, Sidlei Alves da Silva (DEM), é candidato a deputado estadual nas eleições deste ano.

Além disso, o prefeito usava o dinheiro em benefício próprio, como o pagamento de R$ 10 mil por uma cirurgia plástica em sua mulher, Maria Aparecida de Freitas. Ela foi presa durante um evento realizado pela Secretaria de Política para as Mulheres que custou R$ 160 mil, conforme informou o Correio ontem. Segundo Eleandro Passaia, um dos motivos que o levou a denunciar Artuzi foi a intervenção cirúrgica. Na mesma semana em que o prefeito recebeu R$ 100 mil do Hospital Evangélico — e repassou R$ 10 mil para o procedimento na primeira-dama —, uma criança morreu na instituição por falhas no atendimento. Durante as buscas realizadas ontem pela PF, foram apreendidos R$ 145,8 mil na casa do prefeito.

Manifestações
Incrédulos e revoltados, moradores e instituições da sociedade civil de Dourados foram para a frente da delegacia da Polícia Federal da cidade pedir a saída de Artuzi e dos nove vereadores. Ninguém sabia quem iria governar a cidade, uma das maiores de Mato Grosso do Sul, com a prisão do prefeito e seu vice, Carlos Roberto Assis Bernardes. Conhecido como Carlinhos Cantorm, ele também recebia parte do dinheiro pago pelas empresas, além do presidente da Câmara. A prisão do prefeito é temporária e vai durar cinco dias. Até lá, o juiz da cidade, Eduardo Machado Rocha, assume o Executivo.

Além das 28 prisões, a Polícia Federal realizou 38 conduções coercitivas — quando as pessoas são levadas à delegacia apenas para prestar depoimento — e diversas buscas e apreensões.

O número
50%
dos valores dos contratos eram repassados por empresas aos envolvidos no esquema de desvio de verbas


Os detidos

Sete dos 28 presos pela Polícia Federal não são servidores públicos. Confira a lista completa dos suspeitos

SERVIDORES PÚBLICOS
Ari Artuzi (prefeito)

Cláudio Marcel Hall (vereador licenciado e secretário de Serviços Urbanos)

Dílson Cândido de Sá (secretário de Panejamento e Obras)

João Kruger (controlador-geral)

José Roberto Barcelos Junior (ex-chefe de licitação)

Helton Farias (gestor de compras)

Ignez Boschetti Medeiros (secretária de Finanças)

Tatiane Moreno (secretária de Administração)

Marco Aurélio de Camargo Areias (superintendente do Hospital Evangélico)

Thiago Vinícius Ribeiro (departamento de licitações)

Alziro Moreno (procurador-geral)

VEREADORES
Sidlei Alves (presidente da Câmara Municipal)

Carlinhos Cantor (vice-prefeito)

Aurélio Bonatto (vereador)

Edvaldo Moreira (vereador)

Marcelo Barros (vereador)

Humberto Teixeira Junior (vereador)

José Carlos Cimatti (vereador)

Julio Artuzi (vereador)

Paulo Henrique Bambu (vereador licenciado)

Zezinho da Farmácia (vereador)

OUTROS
Maria Aparecida de Freitas (primeira-dama)

Paulo Ferreira do Nascimento

Sidnei Lemes Erédia

Antonio Araújo

Geraldo de Assis

Carlos Gilberto Recalde

José Antonio Soares

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