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5 de maio de 2008

Investimentos: As velhinhas da Califórnia vêm aí

UMA PLATÉIA DE GESTOres e investidores internacionais, reunidos no Hotel Unique (SP) na terça-feira 29, ouviu Mauro Bergstein, diretor-executivo do Credit Suisse, exaltar as melhorias macroeconômicas brasileiras nos últimos 15 anos. E a sentença:

“O investment grade acontecerá ainda este ano e um novo fluxo de investimentos virá para o País”. Poucos podiam imaginar que, no dia seguinte, ocorreria a elevação do Brasil para grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s. Ao subir um degrau na escala da S&P, o mercado de capitais brasileiro sai do nível especulativo e entra no radar dos grandes fundos institucionais estrangeiros.

Os maiores interessados na rápida elevação da nota soberana do Brasil eram os fundos mútuos e de pensão, principalmente os americanos. Anteriormente, muitos tinham uma restrição de aplicar até 12% do patrimônio nos chamados alternative investments, como o Brasil pré-grau de investimento. Alguns se aventuraram e já desembarcaram, provocando uma primeira onda, com entrada em IPOse aquisição de cotas de outros fundos. Como são responsáveis por um bolo de US$ 10 trilhões, é provável que uma segunda onda possa começar.

“Os fundos vão acessar todas as categorias de investimento e vão gerar uma mudança significativa na alocação de recursos”, diz Amaury Júnior, sócio da Vision Brazil Investments.

A primeira onda já atraiu algumas “velhinhas” americanas milionárias ao País. O California Public Employees (Calpers), maior fundo de pensão dos Estados Unidos, possui mais de US$ 1 bilhão em investimentos por aqui. São US$ 885 milhões em ações de empresas como Cyrella, Grendene e Eletrobrás e US$ 90 milhões em investimentos imobiliários. É pouco se comparado ao patrimônio do fundo, calculado em US$ 244 bilhões. No Calpers, não é o grau de investimento que tornará o Brasil mais vistoso. “Nossa política nos permite investir no Brasil desde junho de 2005”, afirmou à DINHEIRO Clark McKinley, diretor de governança corporativa do Calpers.

“Vemos oportunidades e, se você é esperto, vê que o Brasil é uma excelente oportunidade”, diz.

Já o California State Teachers (Calstrs), o terceiro maior fundo norteamericano, tem muito o que enviar.

Até hoje, só investiu US$ 30 milhões em títulos federais. Seu patrimônio total soma US$ 164 bilhões. A aplicação de novos recursos será criteriosa. “O aumento da classificação de um país sempre representa algo positivo, mas isso não impacta necessariamente no nosso apetite por investimentos em seus papéis”, explica Ricardo Duran, porta-voz do Calstrs. A decisão será dos gestores. O primeiro movimento será uma troca de investidores. Muitos apostaram lá atrás no grau de investimento e se preparam para realizar lucros. “Não espero um grande movimento. Mudará o perfil do investidor”, afirma Pedro Guerra, diretor do Citibank. Os fundos de pensão, por exemplo, vislumbram o longo prazo. “Haverá uma entrada na renda fixa com prazos mais longos”, diz Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citibank.

“A NOTA REFLETE MATURIDADE”

A analista Lisa Schineller acompanha o Brasil para a Standard & Poor’s há cerca de 10 anos. Pois foi a evolução do País em todo esse período que ela levou em conta ao recomendar a elevação do Brasil para grau de investimento na escala de riscos da S&P. “Foi o resultado de um trabalho que começou no governo Fernando Henrique e continuou”, afirmou à DINHEIRO.

Houve algum gatilho para a decisão?
Não houve um motivo específico. A elevação reflete a combinação de políticas e do desempenho dos indicadores desde maio do ano passado, quando fizemos a elevação anterior e mantivemos a perspectiva positiva. Mesmo sem a CPMF, o governo confirmou seu compromisso com a meta fiscal, como tem feito há quase dez anos. Isso, num contexto do desempenho de baixo nível de inflação, mais credibilidade, transparência e previsibilidade.

O crescimento da inflação no Brasil não preocupa?
O Banco Central elevou os juros em abril. Isso reflete a independência operacional do BC e o compromisso de manter a inflação na meta.

O investment grade não teria saído sem a alta dos juros?
Não necessariamente. Mas sem dúvida a atuação reforça nossa confiança. É um exemplo de política pragmática para manter a estabilidade da economia brasileira. Apesar da situação externa mais difícil, o Brasil continua a atrair investimento direto. Isso reflete mais maturidade na política e na economia.

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